O termo hipertensão do “jaleco branco”, “white coat
hypertension” ou hipertensão “de consultório”, embora de uso recente nos
meios médicos não é um conceito novo. Essa expressão é empregada para descrever pacientes
cuja pressão arterial (PA) sistêmica é elevada quando medida no
consultório do médico ou na clínica, porém normal em outras ocasiões. No
presente momento, discute-se se esta morbidade é uma condição benigna
ou não, e as causas de sua manifestação.
O primeiro relato a respeito do assunto e registrado em literatura
data de 1930, quando George Brown publicou nos Annals of Internal
Medicine dados de média da pressão arterial de 34 hipertensos em casa e
no consultório, mostrando que fora do consultório, ou seja em domicílio,
estes pacientes apresentavam níveis inferiores de pressão arterial, e
pela primeira vez se caracterizou esta morbidade como sendo a síndrome
do avental branco.
Quando à questão se a hipertensão do jaleco branco pode ser ou
não considerada uma condição benigna podemos dizer que existe dois
pontos de vista que se contrapõe dentro da comunidade médica que estuda o
assunto: a maioria dos pesquisadores
considera o prognóstico como benigno, enquanto que uma minoria tem
sugerido que os riscos na hipertensão do jaleco branco são semelhantes
aos riscos dos portadores de hipertensão sustentada.
Quanto à questão, se a medida isolada da pressão arterial é a melhor
indicação do risco de morbidade cardiovascular, tem-se obtido
informações a partir de estudos, de diversos autores, que as medidas da
pressão quer esporádicas ou sistemática na clínica ou fora dela, têm
uma tendência a regredir ao longo do tempo, de tal modo que os
indivíduos cuja pressão é registrada originalmente como alta, exibirão
uma diminuição nas medidas subseqüentes, ao passo que aqueles com
pressão inicial baixa, exibirão um aumento. Estas situações
podem conduzir a uma atitude por parte do médico de subestimar as
verdadeiras condições de PA do paciente, sendo que o risco será,
portanto, mais acentuado para a pressão verdadeira do que para a pressão
casual.
As discussões quanto a definição se a hipertensão do jaleco branco é
benigna não são conclusivas, mas em geral são corroborantes. Embora
vários estudiosos tenham tentado definir um subgrupo com hipertensão do
jaleco branco, verificaram que muitos pacientes apresentavam às vezes
pressão ambulatorial maior que na clínica, e estes sim pertenciam ao
grupo de risco, ou seja, eram de fato hipertensos.
Explicações do fenômeno
Já foram postuladas pelo menos três hipóteses para explicar a
hipertensão do jaleco branco. A 1ª delas é a de que a hipertensão do
jaleco branco representa uma resposta de alerta exagerada ou uma
resposta de orientação e, assim, uma hiperatividade generalizada diante
de estímulos novos ou estressantes. A 2ª é a de que a hipertensão do
jaleco branco é um precursor da hipertensão sustentada, o qual poderia
estar associado à hiperatividade, ou ser independente desta. O 3º
mecanismo aventado é o de que a hipertensão do jaleco branco é uma
resposta aprendida ou condicionada.
Estudo da PA pelo MAPA (monitorização ambulatorial da pressão arterial)
Estudo da PA pelo MAPA (monitorização ambulatorial da pressão arterial)
A MAPA propicia a avaliação dos níveis tensionais longe dos efeitos
da presença do observador e do ambiente onde ocorre a medida,
constituindo-se este fato, em uma das suas principais vantagens. Apesar
disto, estudos evidenciam que até a MAPA não está totalmente isenta de
influências na medida da pressão arterial.
Conclusão
Na definição de que a hipertensão do “jaleco branco” é uma
condição benigna ou não, se faz necessária, se levarmos em consideração
os danos que a hipertensão sistêmica causa ao paciente ao longo do
tempo. Ao subestimarmos a hipertensão do jaleco branco podemos estar
deixando de fazer um diagnóstico correto e preventivo de conseqüências
maiores no futuro. Sendo esta, portanto necessária para o tratamento precoce evitando lesões futuras nos chamados órgãos-alvo (cérebro, coração e rins).
Referências:
Mion Jr. D. M., Nobre F, Odigman W. – MAPA – Monitorização
Ambulatorial da Pressão Arterial. 2a. ed. Editora Atheneu, R. de
Janeiro, RJ, 1998.
Tratado de Medicina Cardiovascular. Coord. Maria Cleusa Gois. 5a. ed. Editora Rocca Ltda. S. Paulo, 1999.
Ghor, A. Yeb, Nabil, M. S.R. Métodos Diagnósticos em Cardiologia. Editora Atheneu. Rio de Janeiro, RJ. 1997.
Stamler J.- Blood pressure and high blood pressure: Aspects of risk. Hypertension 1991; 18 (suppl1): 1-95-107.
fonte: http://www.medicinageriatrica.com.br/2008/03/02/hipertensao-do-jaleco-branco-benigna-ou-maligna/
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